abismo
cheguei à conclusão de que este espaço me faz bem e de que a escrita solitária me faz melhor ainda, porque embora não sobreviva dela, é dela que me alimento para dias como este, em que me sinto um peixe morrendo pelas guelras. e arrancar da asfixia algo que valha a pena é exercício árduo de respiração.
foi assim, o sonho, dia desses:
eu caminhava sozinha. à frente o caminho se bifurcava. esse ou aquele? ou o que ficou para trás? retornar sempre se assemelhou à batida insistente de uma tecla aleijada. de maneira que segui em frente, sem eleger caminhos, deixando-me levar por um fio de crença: adiante, talvez, a luz. segure mais essa, mariza, adiante o que há é precipício. segurei e foi na beira. as mãos doloridas. os pés dançando no ar. segure mais, mariza, o fosso é profundo. agora, a escolha é outra. acima ou abaixo? o voo, a falta de ar. o passado é uma teta estéril. o presente é este. a dádiva graciosa de poder soltar as mãos. e o futuro é um segredo que, talvez, eu não queira desvendar.
mariza lourenço
[imagem de ©moshitrip]