o padre
às
quartas-feiras me olhava com cara de quem comeu e não gostou e
suspirando, indignado, me abria a porta do confessionário antecipando-me
as penitências, todas elas bem maiores que os pecados que eu confessava
ter. com olhos de desprezo me olhava, como se fosse eu uma pintura
mal-acabada de Maria, a Madalena, que não tem cura e não se emenda,
mariposa de noites sujas iluminada pela indecência das ruas. com voz de
culpa me falava, sentindo-se por mim ofendido, "sujeita ousada", que
desrespeitando-lhe o rebanho, fazia barulho com os saltos e sob a
transparência do vestido convidava ao pecado. podia sentir-lhe a
respiração pesada através da treliça que nos separava, recriminando-me a
invasão da hora Sagrada, quando uma multidão de ovelhas carcomidas silenciosamente desfiava nas contas do Rosário suas preces e ladainhas.
mesmo assim, continuava me abrindo a porta, às quartas, hora da
Ave-Maria, e em todas as despedidas — enojado — dizia "va¡ e não peques
mais!". a isso eu não respondia, só ria um riso escondido, que não era
de pilhéria, era mais um sorriso frouxo de quem colheu o que plantou!
mariza lourenço
mariza lourenço
[imagem ©creativeDIYkei]
6 comentários:
Bela e densamente triste, Mariza.
7:47 AMsalve, Mariza! não perco um!
9:52 PMsuper formidavel!
5:14 AMbeijos muitos beijos
mais que excelente, a forma com que um simples sorriso maroto (e sincero) tem de desarmar a hipocrisia, fazendo-o desabar de suas mais que vetustas alturas. Que bom que voltou com o proseando!!! Andei meio ocupadíssimo esses dias.
2:25 PMBeijos
muito bom.
1:19 PMJá me deparei em situações que me vi assim, mas só me confessei p Deus pq era o único com quem podia desabafar.
Bom dia ,
7:18 AMGostaria de saber se teria a sua permissão para postar um texto teu no meu blog, pois li alguns e vi que são a cara do meu espaço.
marcos tavares
http://www.suordaspalavras.com/
seja bem-vindo, bem-vinda.
será um prazer ler e responder seu comentário, no entanto, optei por não aceitar comentários anônimos, ofensivos ou que, de alguma maneira, possam constranger aqueles que gentilmente se dispõem a me visitar.
grata,
mariza lourenço